SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
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SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
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Re: SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
Todos os recém-chegados da vigésima segunda batalha da West War sentiam-se assim, com exceção dele. Cabisbaixo, sereno e com os olhos semicerrados, Izsák retornava de sua breve participação na guerra com um gosto amargo na boca. Enquanto seu batalhão comemorava a vitória e esperava apreensivo pela chegada dos familiares, distantes há pelo menos três anos, ele se perguntava não só o porquê daquela interrupção no combate, como também a necessidade de enviá-los de volta para Night City tão urgente e abruptamente. |
Izsák permanece estático enquanto os demais, incluindo Duster, correm na direção das centenas de famílias que, de braços abertos, estavam prontas para receber os grandes heróis de Night City. Depois de reparar que até mesmo Irina estava lá, decide permitir um breve resquício de felicidade invadir-lhe a fim de controlar suas pernas para caminhar rumo à garota. Duster, por sua vez, abraçava Irina e pegava-a no colo, como numa clássica propaganda nacionalista; bastavam os caças sobrevoando-os rumo ao horizonte escarlate para tornar aquela cena ainda mais genérica. |
Contrariando todas as possibilidades, Irina estampa um belo sorriso na face, permitindo que leves rugas surjam nas maçãs do rosto, as chamadas covinhas. Envolve Izsák em seus braços e fecha os olhos, relembrando aquele típico odor amadeirado do perfume que sempre usava. Este entrava em conflito com o aroma de sua própria fragrância, esta mais adocicada e frágil. Por fim, Irina e Izsák se afastam, porém não deixam de se olhar nos olhos. |
D I Δ N E- Mensagens : 23
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Re: SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
A principal função de um soldado é proteger sua nação, dar sua vida e seu sangue por milhares de pessoas, algumas muito especiais, outras que ele não faz idéia de quem sejam, mas que no momento da Guerra, se tornam tão especiais quanto seus entes queridos. Outra coisa que é característico do soldado é sempre obedecer, nunca questionar. Você é a base de tudo, nem mesmo no campo de batalha se tem escolha. A ordem é matar o inimigo e deve ser cumprida. Lembra da frase? “Missão dada é missão cumprida”. É isso, se você descumprisse as normas, bem temos então duas possíveis situações que resultam no mesmo fim: 1. Você é tachado de desertor e acaba morto. 2. Você vira o inimigo e acaba morto. Não há outra saída a não ser... Obedecer. O inimigo e o campo de batalha mudam quase sempre, não dão informações dos motivos que levam a isso. Se a população de Nigth City recebe poucas, os soldados recebem menos ainda. O número de mortes a cada reunião sofre um aumento ou diminuição. Sim, eles diminuem, como se alguns dos soldados fossem ressuscitados, fazendo com que a tropa ficasse tensa. O que era verdade ali? Os pobres bonequinhos de chumbo nunca iriam saber. Porém, tinham que proteger sua nação. Duster Ukhozi é o soldado perfeito. Apesar de algumas coisas contrariarem suas convicções, ele obedecia. Seus inimigos eram mortos e seus amigos salvos. Assim como muitos, ele não esperava retornar tão cedo para casa. Ou seria tarde? Perdeu-se no tempo, com tantas mortes, tantas batalhas travadas, marchou durante um longo tempo, talvez. O que mantinha seu coração aquecido era saber que possuía alguém para quem voltar, que fazia tudo aquilo ter sentido. - Voltamos porque já fizemos nosso papel, Zak.– Seu tom de voz era sério, como sua face, na tentativa de contar a ansiedade de voltar para casa. As portas se abrem e finalmente vêem uma luz que quase os cegava. Do lado de fora, a única surpresa era os civis, os parentes de tantos outros soldados. Duster animado estica o pescoço, procurando um determinado sorriso pela multidão. Olha para trás e vê o quão desgostoso o amigo está com a retirada do campo de batalha. Talvez fosse porque ele não tinha para quem voltar. No meio de toda aquela multidão, apenas uma o interessava e ela estava vindo correndo em sua direção, de braços abertos, com um sorriso radiante e o olhar doce. Sentir o abraço de Irina fazia sumir toda ansiedade ou dor que pudesse sentir. Segurava seu mundo e tudo o que viveu até ali valia a pena, pois ela estava salva, bem. Beija os lábios da mulher, passa a mão por seus cabelos carinhosamente, afasta o rosto para observá-la melhor e diz: -Eu senti tanto a sua falta! - Foi um sussurro amoroso. Entretanto, seu coração estremece quando ouve Izsák chama pela mulher, claramente algo havia acontecido antes da partida deles, Duster só não sabia o que e, no fundo, não sabia se queria descobrir. O contato entre os dois lhe causa certo ciúme internamente, que Ukhozi disfarçava muito bem com um sorriso. - Ah sim, as coisas aqui são bem maiores - Irina o trás de seus pensamentos obscuros. – Vamos para o Carro? Irina segue na frente dos dois, talvez houvesse mais alguma surpresa para eles. Caminhavam lentamente na mesma direção que ela, até o amigo continuar seus discursos. -Izsák, esquece isso. Nós fizemos nosso trabalho, se estamos voltando é porque completamos a missão, talvez nos deixar por mais dois anos lá, seria muito gasto. Fica contente, brother. Segue a vida. – Põe as mãos no ombro do loiro, olhando em seus olhos. – O que fizemos lá faz parte da nossa história, a gente não precisa esquecer, só não fica insistindo nessa idéia aí. Pensa em recomeçar a vida, achar alguém que faça todo aquele esforço ter valido a pena, uma causa nova... Não pilha. Larga o amigo e segue em direção a Irina, numa corrida curta para alcança-la, beija-lhe a bochecha. Entretanto, as dúvidas de Izsák faziam sentido e – querendo ou não - brotava uma desconfiança em seu peito. O que mudou para que eles retornassem antes do prazo? |
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Re: SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
Apesar de, na teoria, o plano funcionar, precisavam tirar a prova na prática – e, felizmente, aquele já era o quinto roubo arquitetado seguindo a premissa de Duster. As quantias baixas e a concomitância com crimes maiores tornavam as perseguições facilmente evitadas (e, quando ocorriam, não ofereciam grande perigo, como a que acontecia naquele momento). Irina não precisa de muito esforço para despistar as viaturas: após atravessar dois cruzamentos e seguir em alta velocidade numa área residencial, consegue manobrar o carro rapidamente num estacionamento onde outros três veículos de mesma cor e modelo estavam parados. Saindo da van preta com urgência e removendo as placas desta e das outras três que ali estavam, Irina consegue esconder sem dificuldades a principal arma daquele crime. Retira as películas de silicone das pontas dos dedos, o que evitava as digitais no veículo utilizado no transporte e, enfim, coloca a cartão com os créditos armazenados no bolso esquerdo da calça. Fim. |
Por que Duster havia sido preso também? As pesquisas conduzidas por Izsák eram realizadas pelo celular de Duster, que deixava vestígios de atividade em todo o sistema da Prometheus. Sendo assim, independente de ter ou não feito parte daquela investigação, era o IP de seu dispositivo que ficava armazenado no banco de dados do exército da Promethes, e Duster não conseguia sequer provar que não era ele o responsável pelas invasões ao sistema. Resultado: compartilhara a cela logo ao lado do verdadeiro culpado, Izsák. |
D I Δ N E- Mensagens : 23
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Re: SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
Sua relação com Irina e Zak estava abalada, desde que voltou da guerra, sente que algo está acontecendo entre eles. Por isso, a maior parte do tempo, mantém-se afastado, observando calado onde tudo aquilo iria levar. Naquela operação, só Irina parecia feliz, Duster mantinha a face séria ao descer do veículo, porém deixa escapar um sorriso no canto dos lábios quando Iszák começa todo seu discurso sobre merecimento. Vamos aos fatos: Ukhozi perdeu oito meses de sua vida porque o amigo foi negligente e a justiça ainda era injusta. Ainda mais quando se tratava de uma pessoa negra. O tempo mudou e a sociedade tornou-se ainda mais preconceituosa, mesmo que a mídia tentasse mascarar isso. “Getting good at starting over” Ele recomeçava mais uma vez... A primeira foi na infância, depois foi quando conheceu Iszák, daí veio a guerra e os oito meses preso injustamente. Na verdade, Duster começou a perceber que tentará recomeçar muitas vezes depois que fez amizade com Zák. Se acreditasse em má influência, diria que ele era uma. Foram tantos perrengues ao lado dele, antes, durante e depois da guerra. Mas os oito meses presos não eram nada, ele sentia que estava perdendo algo mais valioso... Perdia Irina. Vejam só, eles discutindo como um casal. - Se vocês quiserem, posso dar privacidade para que continuem discutindo sem sentido. – Fala sereno. Estava enjoado daquele clima entre os dois. – Se está questionando tanto, Zak, por que está fazendo? Volta sua atenção para o aparelho celular nas mãos, algumas luzes em amarelo estavam alertando que algo desconhecido estava bem próximo deles, o que preocupava o homem. -Hey, temos que ir embora! Tem algo estranho chegando... |
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Re: SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
Era justo ele terminar com a garota? O que fizera em prol dela, afinal? Ora, o que fizera em prol de Duster, o elo entre ele e Irina? Zak prejudicou-o inúmeras vezes, ainda que sem intenção. Apaixonava-se por sua namorada. Manteve-o encarcerado por longos oito meses, que poderiam não parecer nada perto da pena perpétua que alguns criminosos recebiam, mas o sofrimento de passar cinco mil setecentas e sessenta horas na prisão injustamente só podia ser explicado e compreendido por quem já passou por isso. E nem mesmo ele, o próprio Izsák, passara por aquilo; cada vez mais, ficava claro que o problema era ele. Sempre foi, desde sempre. Não culpava Duster por tratá-lo daquela maneira fria, mas será que poderia culpar a si mesmo apenas por ser quem era? |
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Quanta consideração Você já pensou em mim? Ah, quanta consideração Profundo demais, perdido no tempo Por que você precisava deixar morrer? Olhos marejados, cheios de vida Por que você precisava deixar morrer? Mãos presas, coração de pedra Por que você precisou deixar morrer? Por que você precisou deixar morrer? Por que você precisou deixar morrer? Por que você precisou deixar morrer? |
Quanto o caos não surge naturalmente, é preciso causá-lo. Foi isso que motivou-a a atacar um policial, arrancando sua orelha com os dentes e esfaqueando-o, apenas com o objetivo de roubar sua arma. Chegara em casa em questão de minutos, trêmula e ciente de que tinha menos de dez minutos para executar seu plano: mataria Zak primeiro e, em seguida, colocaria um fim na própria vida. Iria para o Inferno, não tinha dúvidas disso, mas encontrava paz através da certeza de que até mesmo a terra tocada pelas chamas da escuridão parecia um paraíso diante da crueldade sem fim de Night City. |
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D R E Δ M- Mensagens : 30
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Re: SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
Falando em gratas surpresas, Paradox vivenciava uma agora. Percebendo que Izsák passara pelo processo de avaliar a arma apenas com a visão e tato, chegara o momento de fazer um test drive. Porém com um adendo: ele tinha alvos vivos. Ao sentir a intenção assassina do homem à sua frente, Vash levantou seus olhos sem maldade. |
Olhos puros para um coração impuro? Um coração puro para olhos maldosos? Não era possível explicar. Eis um dos paradoxos de Vash. Com seus olhos brilhantes, ele observou Izsák se tornar um só com a arma que empunhava, da mesma forma que um soldado medieval tinha por extensão do braço, a espada e o escudo que portava. Ao concluir que o momento do disparo era próximo, ele prendeu a visão no alvo que o seu cliente e agora também, parceiro, havia escolhido. No momento do disparo, ele não piscou. Aqueles olhos cintilantes observaram o corpo tombando no chão após receber um tiro bem no meio da testa, e após a queda, ser acometido por alguns espasmos. Vash voltou seu olhar para Izsák. |
Caminhando satisfeito em sua direção vinha Izsák, após assegurar-se que New Harbor Area perdera seus executivos. As construções do local, mais uma vez, ficariam paralisadas. Será que as pessoas imaginavam que o processo iria se repetir tanto que se tornaria uma característica do distrito? Todavia, Vash gostava da sensação, ao contemplar poderosos homens da Prometheus tombarem, assim como seu miserável pai tombou um dia. |
Tudo começou quando ele era mais jovem. |
Naquele dia, o pai dos gêmeos os levou à um lixão de Old Downtown especialmente fedorento. Aquele lixão tinha uma particularidade que o tornava especial: era o favorito para desovarem corpos. Sim, ele era cheio de corpos em decomposição, a olhos nus. “Olhem bem”, disse o pai dos meninos. “Olhem bem para o fim da nossa gente”. Depois disso, ele, que traficava num grupo que redirecionava os ganhos para a população de Old Downtown, apelidados pelo povo do distrito como Saviors, colocou um filho do lado do outro, e disse olhando nos olhos deles, pela primeira vez as palavras que ele viria a repetir outras vezes, assim como no dia em que morreria aos olhos dos dois. No dia em que ele morreu, quando ele retornou baleado, fazendo tanto esforço para ver os dois filhos uma última vez, os rapazes acharam que ele seria sentimental. Mas não, ele disse a mesma coisa que dizia sempre: “Filhos, quando vocês crescerem, prometem para mim que serão os salvadores dos quebrados, dos abatidos e dos amaldiçoados? Vocês derrotarão os seus demônios, e também os incrédulos e os planos que eles fizerem? Porque hoje eu os deixarei... Serei um fantasma que lhes acompanhará no decorrer das estações, e meu corpo fará parte da montanha de corpos que eu lhes mostrei há anos atrás”. Vash realmente não sabe que fim o irmão levou. Porém uma coisa ele sabia bem: aquilo que o pai sempre repetia para eles, foi gravado em seu coração. Ele desejou: desejou se tornar um dos salvadores dos miseráveis. Não pela glória. Não pelo reconhecimento. Pelo quê, entretanto? |
Estes são apenas alguns, dos muitos paradoxos de Vash. Agora, ali junto de Izsák, ele conhecia alguém que tinha qualquer semelhança consigo. Não sabia do passado do homem, mas conheceu um pouco do seu intento futuro. Havia uma comunhão entre ambos. Um alinhamento em seus projetos. Nos destinos que eles imaginavam, elaboravam, mas não eram capazes de controlar. Eles desejavam tornar realidade o sonho dos loucos. O Sonho dos Loucos, como era conhecido, era um desejo utópico de libertar Night City. De regrá-la com justiça. E de tirar do poder, os ímpios. Num determinado momento da história da humanidade, os tolos eram chamados de loucos. E a loucura era o oposto da sabedoria. Daí o termo “sonho dos loucos”. Para os sábios, o sol nunca brilharia sobre Night City. A cidade negra, nunca seria dourada. No entanto, quem podia determinar com certeza quem era, de fato, o sábio, e quem era, de fato, o louco? Deus transformava loucura em sabedoria. E sabedoria em loucura. E esse era um dos paradoxos da vida. |
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Re: SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
Vários mundos se misturavam naquele espaço de uma forma caoticamente organizada. Ao lado esquerdo, próximo da entrada, ficava um bar construído com madeira sintética. Na parede atrás do balcão, bebidas eram dispostas numa estante improvisada, que se resumia à duas tábuas presas à parede, ao lado de um pedaço de tecido negro que se revelava uma bandeira. Retangular e pendurada verticalmente, como nos antigos castelos monárquicos da Idade Média, a bandeira revela um símbolo em vermelho escarlate, com três setas apontando para o centro e dois círculos no entorno destas. |
Ao fundo, diversos computadores se alinhavam, todos ligados, com pessoas focadas em tarefas neles realizadas. Provavelmente membros do Coletivo, aqueles homens e mulheres sequer reparavam na chegada de Izsák e Vash; eram em torno de vinte ou até trinta pessoas que estavam ocupadas demais para beber, conversar ou se divertir – o oposto daquilo que Zak, o líder de toda aquela operação, fazia. |
D R E Δ M- Mensagens : 30
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Re: SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
Após pedir para ser seguido, Izsák trilhava um tortuoso caminho para onde quer que ele estivesse indo. Aos poucos, Paradox foi estranhando as passagens e os componentes que elaboravam o cenário, principalmente a primeira porta. Como se lesse a sua mente, ou sentisse os seus pensamentos, Izsák pronunciava-se. |
Continuando a seguir Izsák, Paradox limitava-se a não fazer comentários verbais, e nem anotações mentais. Ele simplesmente absorvia o que estava acontecendo, estranhamente preso dentro um mix: estava ficando ansioso com aquilo tudo, porém não se sentia em perigo. A escadaria foi eterna enquanto durou. No subterrâneo, havia outra porta, muito mais elaborada que a anterior. Diante de tanta segurança e sigilo, Vash não conseguiu manter-se imparcial, a profissional imparcialidade: ele estava começando a nutrir um misto de surpresa e expectativa. Quando a porta era aberta, Izsák revelava um pequeno mundo, caótico e organizado. O que Vash estava vendo? Surpreso, de fato, o homem ia adentrando o local. A primeira coisa que lhe chamava a atenção era o bar, as bebidas posicionadas numa estante improvisada, e ela, claro, ela, com toda a certeza! A bandeira. |
Quando convidado, sentou-se no banco do bar, ainda com aquele ar de contemplação. Agora sim, não conseguindo mais ser imparcial ele reparava em tudo, absorvendo as informações que seus olhos viam e guardando-as em sua mente. Poderia não saber o caminho que levava ali, mas agora, registrava mentalmente o esconderijo de Izsák. Por algum motivo, sentia-se acolhido pela atmosfera, apesar de tudo ser novo para si. |
Assim que pegou o copo, Vash acompanhou Izsák no brinde, realizando o mesmo movimento que o outro fazia. No seu rosto, ficava clara uma certa quantidade de liberdade, especialmente após Paradox permitir-se dar um sorriso sincero e puro — coisa rara — antes de beber a sua dose. A forma como Izsák bebeu o seu drinque era bastante espontânea e cheia de ímpeto; já Vash demonstrava-se mais contido, novamente aparentando timidez, bebendo a sua dose de forma comedida. Enquanto o incêndio em sua boca, ardência causada pelo valioso e delicioso exemplar de whisky antigo, diminuía e migrava para o interior de suas entranhas, Izsák fazia um gesto abrangente que apresentava o restante do QG que Vash ainda não tinha assimilado. Um pouco mais à vontade, ele notava o mural, as telas de LED que mostravam várias imagens de câmeras de segurança — Vash perguntava-se se havia algum registro seu ali, e o que de fato o Coletivo buscava supervisionar —, além de algumas dezenas de computadores, todos ocupados por usuários atenciosos e dedicados que pareciam ignorar os dois homens no bar, e se prestavam qualquer atenção neles, não demonstravam ou não tinham interesse o suficiente para perturbar suas linhas de raciocínio. |
E as palavras de Izsák atingiam aquele ponto do consciente de Paradox. Conforme ele foi falando, demonstrando muita paixão e objetividade em seus propósitos, Vash foi recuperando seu aspecto mais introvertido, ficando sério novamente. Ele mentalizava o que Izsák lhe dizia. O que o outro dizia fazia sentido. Ao lado dele, poderia fazer muito mais do que fazia, seu alcance aumentaria, o impacto de suas ações aumentaria. E como não pensar nos benefícios que Izsák também ganharia? Se por um lado Paradox meditava acerca dos prováveis sucessos que conquistaria em sua empreitada, era impossível não pensar na parcela de Izsák, no sucesso que ele alcançaria. E de repente algo passava em sua mente: havia razão nas palavras do Primeiro. O objetivo deles realmente convergia. Era o mesmo objetivo. À essa altura da conversa, Vash já havia deixado de lado a opção de desistir. Vagamente passara pela sua cabeça a questão de como Izsák reagiria à uma negação, afinal Paradox era um negociante muito frio. Porém ele de fato dedicou um tempo precioso para escutar e absorver as palavras do novo parceiro. Enquanto o outro elaborava seus intentos verbalmente, os ouvidos de Vash os sorvia como um sommelier, como se pudesse degustar cada intento, cada emoção, presente naquelas palavras. |
Uma sombra tomava conta do rosto de Vash. |
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Re: SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
Era de outra pessoa. |
Felizmente, algo faz ambos ataques pararem: um grito de súplica emitido por Irina. Posicionada entre Izsák e Duster, ela impede a colisão de ambos para que, aos poucos, retomem o controle de suas próprias consciências. Sua respiração estava ainda mais ofegante do que antes, já que assistira por minutos intermináveis o seu pior pesadelo tomando forma. Por mais que a amizade sempre prevalecesse entre Zak e Duster, uma tensão era construída entre eles pouco a pouco, silenciosa e mortal. Talvez o envolvimento entre Irina e Izsák incomodasse Duster, ainda que ele dissesse que não. "Não podem ser responsabilizados por gostarem um do outro", foi o que ele dissera quando descobriu; uma atitude deveras nobre, digna de alguém tão correto como Duster. Quem poderia comprovar, porém, que tratava-se de seu real pensamento? Será que ele enxergava aquela proximidade com tanta racionalidade assim? |
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Re: SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
Irina sempre tivera a visão romântica de que estamos completos quando amamos. Não é preciso estar envolvido em um relacionamento, e sim amar... Um amigo, um ente querido, um trabalho, um propósito, uma ideia. E, graças a Zak, Duster e o Coletivo, Irina sentiu-se completa por anos. Abdicara da própria liberdade – ou da ideia falsa de liberdade que a Prometheus vendia – desde que decidira se juntar ao grupo visionário de seus amigos, há pouco mais de cinco anos, e nem mesmo isso afetava a profunda felicidade que sentia ao estar ali, envolvida num objetivo tão nobre e próxima de pessoas tão queridas. Irina era uma das criminosas mais procuradas de Night City e, ainda assim, era feliz. |
Ela não sabia. E o fato de não saber gerava dúvidas... Dúvidas cruéis e incômodas, que faziam-na refletir se Duster não teria razão em refutar aquele plano. Quando olhava os sorrisos nos rostos dos membros do Coletivo, porém, Irina conseguia apaziguar seus questionamentos. Mesmo que não tivessem certeza alguma se aquilo daria certo, ou se era justo causar tanto sofrimento em troca de dinheiro, estavam felizes porque cumpriam uma ordem do Primeiro. O carisma de Zak atingia patamares absurdos, e ele conseguira aprender a maneira ideal de discursar e tocar vidas através de suas palavras. Há anos, os membros do Coletivo deixaram de estar ali para combaterem a Prometheus; talvez fora isso que os trouxera ali, mas permaneceram apenas porque encontraram na figura de Izsák o herói que Night City precisava. Era como se ele tivesse a solução para todos os problemas inserida em seus ideais e objetivos. Até mesmo ela, talvez imune aos encantos do Primeiro por ser amiga de longa data de Zak, via-se envolvida pelo personagem que ele criara. E, incapaz de entender aqueles sentimentos, Irina permitia-se apenas sentí-los, sem culpa ou pesar. |
O próximo passo envolvia a introdução intravenosa de uma substância rara conhecida como Ceifador. Ela alterava a percepção psíquica do corpo e reinterpretava os impulsos enviados para os implantes. Com isso, os traficantes perdiam o controle pelas próprias partes mecânicas, além de sentirem uma dor extrema nas regiões em que foram instaladas. Todos cederem ali, com exceção de um refém em específico – o mesmo fora catalogado como "o que não se viciara em seu próprio produto". |
O plano de Izsák resumia-se em se apossar de todas as operações de tráfico e, consequentemente, do dinheiro das vendas, em troca de proteção. Isso poderia ser vendido como um serviço, mas o Coletivo sabia que sairia muito mais barato se cada traficante contratasse seu próprio exército particular. Mercenários dispostos a morrer eram mais fáceis de se encontrar do que médicos ou professores, afinal. Sendo assim, impor essa proteção em troca da maior fatia do faturamento proveniente das vendas de drogas tornava-se a única alternativa. |
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Re: SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
A cada nova alma que removia dos corpos que o interpelavam, o fazia sentir-se superior à organização. Então aquela era a tão temida Memória, antro dos revoltosos apoiadores do Primeiro? Como poderiam ser tão amadores a ponto de terem um sistema de segurança tão pífio e cheio de falhas? E as fronteiras de New Harbor Area, desertas e sem qualquer monitoria... Não sabiam que seus inimigos poderiam vir não apenas de Old Downtown, como do norte de Studio City, do sudeste de Upper Marina e do sul de East Marina? O maior distrito em dimensão de Night City poderia ser facilmente penetrável pelas mais variadas regiões, e lá denominavam as bases de seu paraíso particular? |
Doze pessoas foram eliminadas dentro de Memória, e outras quatro precisaram morrer do lado de fora, para que Zender pudesse entrar. Contava dezesseis fins até aquele momento. Quantos mais precisaria matar para que o Primeiro aparecesse? O fato de seus seguidores gritarem sua alcunha antes de perecerem mostrava-se deveras curioso. Seriam, na realidade, devotos? Seu devaneio é interrompido com um grito vindo dos níveis inferiores. Que tipo de atividades escusas desenvolviam ali? |
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As lágrimas do tempo, intermináveis Dê-me outra vida Que me console desta despedida. |
Sacrificou-se na cruz enquanto a gente seguia Diga-me, encontramos a morte Ao arriscar nosso destino Munidos apenas da própria sorte? |
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Felizmente, uma última interrupção salvaria sua vida. Numa fração de segundos, Zender larga o corpo de Irina, que caía no chão, inerte. Isso fora necessário para que segurasse o punhal que fora arremessado em sua direção, mirando sua nuca. |
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Re: SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
Quase vinte mortes... Vinte pessoas que saíram de suas casas com o intuito de fazer a diferença, e não mais retornariam. Quantas família haviam perdido filhos, pais, irmãos? Como é que Izsák carregaria aquele fardo nas costas, sendo que já carregava o mundo desde que decidira representar a resistência à Prometheus? Esses pensamentos inundam sua mente durante todo o caminho até a região externa da fortaleza, superada após diversos lances de escadas. Já no local e fitando os olhos enigmáticos de Zender, porém, nada mais ousava distraí-lo. Todas as suas atenções estavam focadas no inimigo. |
Zender se mostrava ainda mais rápido sem os obstáculos da área interna da fortaleza. Seus movimentos eram tão calculados, belos e precisos que poderiam ministrar até a Royal Concertgebouw Orchestra. Com a espada posicionada na altura do tronco horizontalmente, desfere um golpe circular e fatal contra Izsák, visando atingí-lo próximo ao coração. Surpreendentemente, a lâmina encontra uma irmã afiada no trajeto, impedindo seu avanço: o Primeiro coloca um dos punhais transversalmente, mantendo o outro braço estendido para cima. |
Surpreso, Zender cambaleia para trás, tentando conseguir o máximo de distância possível de Izsák. Este, por sua vez, não demonstrava interesse em explorar aquela brecha para continuar a atacá-lo. Ao invés disso, ria. Parecia se divertir com aquilo, ao notar que removia instantaneamente a expressão de superioridade da face daquele verme que ousou desafiar o Coletivo. |
Ainda debochado, Izsák mantem as pernas estendidas e aproxima as mãos da braguilha da calça. Puxa o zíper para baixo e bota o pênis para fora. Logo, a água da chuva se mistura com o mijo do Primeiro que caía insistentemente sobre o rosto de Zender. O membro, cada vez menos ereto por conta da urina que saía, logo é guardado de volta dentro da cueca. Um sorriso de escárnio pode ser visto no rosto de Zak, satisfeito ao ver que Zender sequer tinha forças para impedir que seu pior inimigo mijasse em cima de si. |
Oposto ao seu adversário, Zak se ajoelha e murmura algumas palavras em sua direção – as últimas palavras que seus ouvidos captariam. |
Paralelo a isso, aplausos e gritos animados podiam ser ouvidos das pessoas que ignoravam a orientação anterior. Alguns batiam contra superfícies metálicas para gerar um barulho ainda maior, enquanto outros assoviavam e comemoravam, à sua maneira, o misto de vitória e vingança de Izsák. |
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Re: SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
Pela primeira vez, entretanto, encontro uma dificuldade em lembrar de alguns rostos. O rosto do Jeffrey, por exemplo, com sua cicatriz tão marcante no olho direito, já não me é mais tão familiar. A pessoa que jaz ao lado dele, por sua vez, possui um nome que não lembro. Trata-se de uma mulher, isso eu sei, com seus vinte e poucos anos, impetuosa, cheia de sonhos e ideais. Foi fácil trazê-la, me lembro disso também, porque ela já tinha dentro de si o solo fértil para que eu conseguisse plantar minha semente. Sinto sua falta, garota, mesmo sem conseguir lembrar seu nome. |
Ah, pro caralho com tudo isso! Como é que eu tenho coragem de acusar o cara depois de tudo que eu fiz? Porra... Quantas pessoas não estão fazendo o mesmo que eu: olhando para as covas de seus entes queridos que morreram por minha causa? Eu... Sei lá, não era pra acontecer assim. Não era pra tantas pessoas inocentes pagarem o preço da revolução. Eu acho que... Acho que era um garoto inocente, movido por uma infância difícil que buscava o fim da opressão que essa cidade causa. Eu só tinha propósito, e nada mais. Como eu poderia enfrentar sozinho um conglomerado tão poderoso e inatingível? O que me faz dormir a noite é a certeza de que os fins justificam os meios, mas... Será que justificam? Será que se eu tivesse aceitado que minha vida se resumiria a apertar milhões de parafusos por dia numa fábrica genérica, pouparia milhões de pessoas que vieram a padecer por minha causa? Ah, Zak... O trono do império é solitário, não é? |
Ela se afasta um pouco e me olha, ainda com um sorriso nos lábios. |
Irina, como você consegue? Como sempre traz a luz para aplacar a escuridão do meu coração? Sei que sou insano demais para traduzir meus sentimentos em uma só palavra, mas... Se o amor existe, deve ser isso que estou sentindo agora. Obrigado, Irina... Obrigado. |
... O dia em que o mundo como conhecemos mudaria definitivamente. |
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Re: SAGA: [TRACK 09] Breaking Benjamin - You
Já se passavam mais de dez anos desde que formara o Coletivo junto de Irina e Duster. Mais de dez anos que abandonara a própria vida e abdicara das rotinas mundanas para lutar uma luta pesada demais. Eram jovens revoltados contra um conglomerado movido por dinheiro e poder. Tudo que haviam conquistado até ali, em meio àquela guerra desigual que travavam com a Prometheus, era notável. Desde Memoria, a base que criaram juntos, até o domínio que estabeleceram em um distrito inteiro; os ataques que enviavam mensagens diretas à diretoria da Prometheus, e os milhares de seguidores que viram sentido naquela luta... Era fantástico. Zak, Irina e Duster criaram algo fantástico. Mas a fantasia nunca seria suficiente. |
Irina olha para as pessoas próximas e nota lágrimas em seus olhos. Algumas eram teimosas o suficiente para permanecerem estáveis, mas outras insistiam em cair por seus rostos. Zak sempre fora a figura que mantivera o Coletivo unido. A identidade com a batalha mesclava-se com a idolatria que os membros tinham para com ele. Logo, vê-lo admitir que estava exausto era o estilhaço no espelho supostamente perfeito. A verdade é que não conseguiriam manter aquela batalha apenas com visões positivas e ideologias. Era pouco. Pouco demais. |
Mas aquele era, também, o seu combustível. Não ser mais uma vítima, e ajudar outras pessoas a não percorrerem esse caminho lamentável. Talvez essa fora a chama inicial que dera origem ao que era hoje o Coletivo. Não podia afirmar com certeza, mas a maneira que enxergava a cidade, seus excessos e a hegemonia da Prometheus ia muito além do que a maioria das pessoas via. Não era apenas revoltante; era forte o suficiente para gerar mudança – e Zak permitia-se ser o agente da mudança, mesmo que isso significasse seu próprio fim. |
E, de repente, a definição de família torna-se simples. Fácil. Quase palpável. |
... era Duster. Ele estava ali, e levantava o braço em direção à Izsák como quem dizia: "ofereço-te minha espada". Zak percebe, enfim, que seu irmão de armas estava de volta. |
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